Muita coisa aconteceu durante esses três anos desde o nascimento da Tons Psicologia LGBT+, só eu sei os desafios que se colocaram no caminho desse psicólogo, as dores e as delicias de gerenciar essa clínica, mas muita coisa mudou para melhor, então eu vou dividir com vocês as 3 coisas que a Tons mudou em mim em 3 anos!
ESPONTANEIDADE
Como um homem gay cresci preocupado em manter aparências. Todos devem saber o que é tentar se encaixar em busca de aceitação em uma sociedade heterocisnormativa, não é mesmo?
Então quando me formei me perguntei muito como seria se, por exemplo, encontrasse pacientes em espaços que revelassem minha sexualidade ou espaços que são literalmente LGBT+ (baladas, aplicativos de relacionamento etc).
Criar a Tons não só me ajudou a ter espaço para cuidar da comunidade e das pessoas que me buscam, mas me permitiu ficar mais tranquilo e ser mais espontâneo podendo ser quem eu sou em qualquer lugar que eu estiver sem impactos muito drásticos no meu trabalho.
Sim eu encontro meu pacientes em diversos lugares e não há nenhum problema nisso, pois somos seres humanos que amam e vivem como qualquer outra pessoa!
SUPORTE
Eu estudo e faço meu trabalho como psicólogo clínico tentando pensar em uma forma de poder contribuir para uma sociedade mais justa. Isso por vezes implica em poder dar acesso ao atendimento para populações mais vulneráveis.
Contudo os boletos não se pagam sozinhos. Passei por muita dificuldade financeira no inicio da Tons, principalmente no ano de 2017. Estar na clínica investindo tempo, acolhimento e escuta tem sido meu suporte emocional e financeiro.
O que quero dizer é que hoje posso afirmar que eu me sustento trabalhando com o que eu amo fazer.
Falando em subverter formas de opressão sabemos que o capitalismo tem força grande nesse processo. Acredito que existe um ponto de equilíbrio que pode auxiliar pessoas que precisam do atendimento e ainda ajudar a me manter financeiramente através do meu trabalho. Muitas pessoas me ajudaram nesses três anos e eu acredito (olhando caso a caso) que tenho na medida do possível conseguido retribuir isso ao mundo através da diversidade de pacientes que acolho na clínica.
ABERTURA DE PORTAS
Entre os profissionais psicólogos existe uma certa convenção em não limitar o trabalho. Isso significa que se você pegar o cartão de um psicólogo há 90% de chances de estar descrito: atendimento para crianças, adolescentes, adultos e idosos.
Especificar o atendimento para a diversidade (o que significa que atendo pessoas que desejem acolhimento por serem quem são: seres humanos) pode parecer para algumas pessoas limitante, embora eu atenda pessoas cisgênero/heterossexuais também, mas especificar meu trabalho foi o que mais me abriu portas.
Cada vez que uma pessoa me manda mensagem e diz que lembrou de mim por ter visto um filme LGBT+, uma palestra com o tema ou me encaminha alguém porque acha que sou qualificado para o atendimento, meu coração se enche de energia e alegria, pois sei que estou indo pelo caminho certo, que esse trabalho é importante e principalmente que estou me destacando.
Trabalhei e ainda trabalho muito para isso, então todas as portas que vi se abrirem me faz saber que não sou apenas eu que passo por elas, mas a comunidade LGBT+ inteira! E isso me deixa muito feliz e emocionado.
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Ailton Gomes – Psicólogo Clínico com foco em diversidade, gênero e sexualidade.